quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O Bicho


Mais uma vez procurei o bicho que mora debaixo da minha cama e ele não estava lá. Não existem mais ruídos, nem movimentos estranhos. Olhei pra tudo quanto é lado e parecia até que ele nunca esteve ali.  Pensei que fosse um sonho fechei os olhos com força e abri novamente, olhei assustada porque percebi que tudo ali parecia diferente. O velho livro de cabeceira não era o mesmo, as sombras, os medos, as preocupações. Eu não era a mesma!
O Bicho se foi e levou consigo a fantasia da minha infância. O espaço parecia coisa de gente grande, eu já conseguia alcançar a última gaveta do armário, já escovava os meus dentes sem ninguém por perto, eu estava crescendo. Mas eu não queria crescer, parecia chato demais essa coisa de adulto, e eu era uma boba, não fazia idéia que os bichos da realidade eram realmente maus e assustavam ate o mais íntimo coração. Depois de tanto me assustar com meu velho amigo que se abrigava nos meus medos mais inocentes percebi que não estava pronta para crescer, eu não imaginava que um dia iria lidar com os bichos grandes do mundo, aqueles que além de causar medo, causam dor, sofrimento, injustiças... como a Fome, o Egoísmo, a Maldade.  Mas a vida não espera por você, fui posta a prova e jogada num mundo de responsabilidades e de verdades vergonhosas, sem mais nem menos descobri o meu endereço, reconheci o mundo em que vivo e senti saudades daquele bicho que um dia foi a minha única preocupação antes de dormir!


E da maneira mais fria cresci, superei os obstáculos, as provas, as dores, curei feridas... aprendi a discernir o meu imaginário (cheio de fantasias) do que chamam por ai de ‘realidade’.  Hoje sou imensamente feliz pela certeza de que mesmo depois do que me provam com cálculos e experiência nunca deixei de acreditar na criança que preservo dentro de mim, da criança que sou! Ela que nunca me deixou esquecer da inocência, da vontade de saber e descobrir o mundo, de não ter vergonha de ser feliz, de ser verdadeira  e que sempre existem finais felizes apesar de tudo e de todos!

domingo, 9 de outubro de 2011

Terra, Vida e Esperança


Estou no cansaço da vida
Estou no descanso da fé
Estou em guerra com a fome
Na mesa, fio e muié
Ser sertanejo, senhor
É fazer do fraco forte
Carregar azar ou sorte
Comparar vida com a morte
É nascer nesse sertão
A batalha tá acabando
Já vejo relampear
Abro o curral da miséria
E deixo a fome passar
O que eu sinto, meu senhor
Não me queixo de ninguém
O que falta aqui é chuva
Mas eu sei que um dia vem
Vai ter tudo de fartura
Prá que teja o que não tem...
 Luíz Gonzaga