E por ser tão profunda ela escolheu se jogar todos os dias
daquela mesma pedra, sem lembrar ao menos dos machucões que levaria nas carnes,
só pra ter de subir novamente e se rever por aqueles caminhos que ela mesma
traçara pra trilhar. E por ser tão livre ela invejava os passarinhos e os recriava
dentro de si como se eles fossem fragmentos de sua alma, alma que era
alimentada de desejos e vontades incontroláveis e a cada segundo cobiçava mais
espaço pro seu mundo. E mesmo sendo tão infantil ainda usava o velho vestido
que a cobria de flores coloridas, causando inveja ao mais lindo lírio do campo
que sempre acabava banhando-a naquele aroma silvestre junto com a brisa que
embaralhava-lhe os cabelos por diversão. E por ainda assim ser sempre apaixonada
ela passava horas de olhos fechados amando e re-amando suas lembranças e as memórias
que tinham aquele doce salgado sabor de azedo. E por conseguir sonhar tão alto
sentia orgulho de si por conseguir nutrir sempre sua imaginação, além de toda e
qualquer lógica findada pelo homem. E apesar de não se achar sentimental ela conseguia
ficar ainda mais feliz ao sentir o calor do sol, ou apenas chorava de rir
quando saia correndo para dançar na sempre esperada chuva. E apesar dela ser tão clara e radiante nas
situações de calor e frio, um dia já não pôde mais iluminar e se entregou em
silencio ao escuro. E mesmo todos
achando que nela havia só brilho ela já chorou e temeu diante da perda, e até
da saudade. E se de alguma forma a insegurança conseguiu a preocupar ela cantou
alto, tão alto que não conseguiu mais ouvir seus próprios pensamentos. Mas se um
dia a força não conseguir mais brotar dos seus olhos, se as lágrimas que
cerrarem derramem ódio em sua face, se a coragem se esconder em si por algum
receio ou se o silencio falar mais alto do que o amor em seu coração, ele não será
mais o mesmo, e a menina terá trocado de nome, pois não mais vai ser aquela luz
que atrai sorrisos e irradia força e liberdade. A menina já não vai mais ser
aquela que nunca temeu cair nem errar a estrada, porque sabia que sempre
conseguiria colher flores ou plantar sementes ao se levantar ou voltar no
caminho. A menina terá perdido ou se perdido na sua própria imensidão de
insanidade, pois só ela mesma conseguiria destruir-se um dia. Ou reconstruir-se,
pois mesmo sendo sempre ela mesma, ela nunca será a mesma.
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